terça-feira, 19 de julho de 2011

Como matar profetas hoje? Por Samuel Alves Silva



“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são
enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta
os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste”  (Mt 23.37). Esta
lamentação de Jesus Cristo nos chama atenção para uma prática comum nos
dias bíblicos: matar os profetas de Deus.
Lucas testemunha isto, registrando uma pergunta de  Estevão: “A qual dos
profetas não perseguiram vossos pais?” E então Estevão afirma: “Até mataram
os que dantes anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes
traidores e homicidas” (At 7.52).
Se foi assim nos dias antigos, deveria ser diferente hoje? Ou melhor: é
diferente hoje? Qual a posição do mundo em relação aos verdadeiros profetas
de hoje? E qual tem sido a posição da igreja? Especialmente da igreja visível,
institucional, estruturada em denominações. Seria incorreto dizer que muitos
profetas de hoje, no seio da própria igreja, têm sido “assassinados”? Não é o
que acontece com os que proclamam a vontade de Deus, denunciam o pecado,
criticam os interesses politiqueiros e exortam à santidade?
É claro que a maneira de se silenciar um profeta mudou! Não matamos mais
nossos profetas, no sentido literal, pois nossas leis não permitem. Mas os
matamos de outras formas.  Neste tempo de frieza e  apostasia, muitos
homens e mulheres de Deus estão sendo rejeitados por causa da sua
mensagem de justiça.
Talvez possamos pensar diversas formas de matar profetas, das que são
comumente praticadas hoje. Podemos identificar desprezo, questionamento da
credibilidade de suas palavras, questionamento da suas formas de fazer e
dizer, rejeições públicas e tantas outras formas que levam hoje muitos homens
de Deus a condições de morte em seus ministérios proféticos. Muitos homens e mulheres, jovens ou não, são desestimulados pela própria igreja, a interesse
de manutenção do modelo que melhor atende aos interesses dominantes.  
E quem seriam os “assassinos” de profetas? Nos dias antigos eram os reis, os
sacerdotes, os políticos, os leigos, todos se viam no direito de julgar e executar
o julgamento. Eram aqueles que desejavam ouvir apenas as mensagens que
lhes eram convenientes, rejeitando e desprezando o  que Deus realmente
desejava falar. Eram pessoas com os corações duros e insensíveis, com suas
mentes dirigidas pelo orgulho. E quem seriam os modernos matadores do
verdadeiro ministério profético? Não teriam as mesmas características?
Não teríamos hoje também os profetas da conveniência, que de fato atendem
ao interesse do sistema? Claro. Existem “profetas”  que professam aquele
evangelho sem compromisso, focado nos favores terrenos, que ignoram
valores como o caráter, a ética, a submissão a Deus e a sua Palavra. Estes são
aplaudidos, nos levando até mesmo a questionar a lógica de Jesus quando
advertiu: “Ai de vós, quando todos os homens vos louvarem! porque assim
faziam os seus pais aos falsos profetas” (Lc 6.46).
Mas Deus ainda procura homens que o adorem em espírito e em verdade (Jo
4.24). Precisamos, mais do que nunca, de homens santos que falem as
verdades acerca da sã doutrina, da santidade, do caráter cristão. Que falem
sobre a abominação em altares, que falem contra a corrupção que grassa o
pós modernismo e que falem não aquilo que todos querem ouvir, mas aquilo
que todos  precisam  ouvir. Continuaremos a ter matadores de profetas, mas
não podemos prescindir dos profetas de Deus.
Na verdade, aos cristãos de hoje não sobram muitas  opções. Jesus disse:
“Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” (Mt
12.30; Lc 11.23).  Só há dois caminhos: um espaçoso, que conduz a perdição.
Outro apertado, que conduz a vida eterna. Ou atendemos a preceitos bíblicos
tais como “exortai-vos uns aos outros” (1 Tm 5.11; Hb 3.13), “admoesteis os
insubordinados” (1Ts 5.14), e outras, ou, no mínimo, estaremos na condição de cúmplices dos modernos matadores de profetas, se não de partícipes, como
aqueles que apedrejaram Estevão, somente porque falava de coisas que
procediam de Deus (At 7).
Muitas mensagens estranhas circulam no mundo e na igreja. E muitas já estão
no coração de vários de nós. Quão pouco a Bíblia é  usada como referência.
Muitos já não sabem o que é caráter cristão, submissão, Bíblia, plano de Deus,
vontade de Deus e estão vivendo as muitas verdades de nosso tempo e não de
Deus. E a cada dia este tipo de situação avança sobre muitos ainda
incontaminados. Por ser tão séria a questão, Jesus chegou a perguntar: “Digo-vos que depressa lhes fará justiça. “Contudo quando vier o Filho do homem,
porventura achará fé na terra?” (Lc 18.8).
Não deixemos morrer os profetas de hoje. Não ignoremos suas mensagens;
não desprezemos seus ministérios; não deixemos de dar ouvidos aos
conselhos e admoestações daqueles que Deus coloca em nossas vidas para nos
exortar. Não alimentemos as críticas destrutivas e não os impeçamos de falar.
Não pratiquemos a calunia moral. Antes, sejamos instrumentos de Deus,
falando a sua Palavra e vivendo seus valores. A Igreja precisa de profetas de
Deus.